“Seus saberes moram na encruzilhada da cristianização dos ritos africanos e da africanização do cristianismo, com o tempero profundamente indígena, acrescentado aos poucos por diversas contribuições”.
Esse trecho, escrito por Luiz Antonio Simas no livro “O corpo encantado das ruas”, evoca os saberes de uma religião tipicamente brasileira: a umbanda, declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro em 2016 por sua importância cultural.
A umbanda é uma das diversas denominações religiosas de matriz africana existentes em todo o território nacional, e pode ser compreendida como um amálgama de ritos africanos, indígenas e cristãos europeus, como catolicismo e kardecismo.
A versão mais difundida sobre as origens da umbanda como religião localiza sua fundação em 15/11/1908, durante uma sessão na Federação Espírita de Niterói: Zélio Fernandino de Moraes incorporou uma entidade que se apresentou como Caboclo das 7 Encruzilhadas.
Em 16/11/1908, ele fundou a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade – considerada a 1ª casa umbandista do Brasil. Assim, além do surgimento de outros terreiros, foram estabelecidos os fundamentos doutrinários e ritualísticos importantes para o reconhecimento da umbanda como religião no séc. XX, apesar de todo preconceito contra as entidades de caboclos, pretos velhos e indígenas.
Com o passar do tempo, diferentes rituais – muitos deles anteriores à instituição em 1908 – foram considerados e incluídos sob a denominação da umbanda. Hoje, o município do Rio reúne mais de uma centena de terreiros, como a tradicional Tenda Espírita Vovó Maria Conga de Aruanda. Essa foi a 1ª casa cadastrada no mapeamento de terreiros de umbanda e candomblé da cidade, feito a partir dos estudos do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) para promover políticas públicas de salvaguarda dos espaços de Axé.
Os terreiros de umbanda têm papel fundamental em trabalhos de caridade e apoio às comunidades onde ficam. Além disso, estão na umbanda e no candomblé as origens de muitos rituais conhecidos, como pular as 7 ondas no Ano Novo. Mesmo assim, os constantes ataques aos terreiros no Rio escancaram o racismo contra as religiões de matriz africana.