Assombro

Andarilhar pelas ruas do Rio é como escavar o tempo ou mesmo improvisar um verso. Dessa forma, não é difícil a sensação de que o passado assombra o cotidiano do Rio de Janeiro e de que o futuro é uma espécie de aposta acesa em uma esquina. Os valentes originais daqui, tupinambás, crentes de que a morte no campo de batalha é a grande aventura que os eterniza no tempo, engoliram tudo aquilo que passou por eles. E mesmo que a história oficial não cante as saga dos tupinambás como mistério da vida, as onças ainda rugem, seja no pouco de mata que restou, mas também nos barracões de fé e folia. Entendemos que o Rio que se ergue na quizumba entre onças, ritos de bravura, santo flechado, demandas de além mar e seus carregos coloniais é uma terra livre do pecado onde, ao mesmo tempo ninguém é santo.