Um Rio que mora no mar

O Rio traz um rio no próprio nome, e desde que nasceu assim pensaram que era: a boca de um rio. A Baía de Guanabara enganou os navegantes, talvez por se apresentar com tantas águas doces que a alimentavam. O que era verdade mesmo, no momento em que os estrangeiros a viram pela primeira vez, é que o Oceano Atlântico dela se nutria, e nela se refestelavam golfinhos e baleias que em suas águas calmas circulavam. Era um recanto que as águas do mar encontravam para relaxar, para deixar-se envolver pelas águas doces e caudalosas dos rios que desciam das montanhas da Serra do Mar.
Hoje, muitos destes rios estão canalizados, ficaram ressequidos e foram até mesmo transformados em valões. Mas, a cidade ainda é marcada por estas águas, que às vezes se rebelam e escapam dos subterrâneos em que as confinaram, e dos traçados retilíneos que lhes impuseram. Transbordam, descontroladas, e reclamam seus territórios, derrubam, destroem, se vingam. E quando o oceano entra em ressaca, elevando suas ondas e avançando sobre as areias das praias e sobre os costões pedregosos, muitos canais, lagoas e rios do Rio também se elevam, conectados que são. Ah, a força das águas…