Em 1926, Washington Luís tornou-se presidente do Brasil seguindo um lema que acompanhava sua trajetória política desde que foi governador de São Paulo, entre 1920 e 1924: “governar é abrir estradas”. Na presidência, esse lema significava a integração do país através das rodovias, que permitiriam a circulação de pessoas, mercadorias e mesmo a ação do governo Brasil adentro. Ao longo das décadas seguintes, esse ideal foi seguido por diversos governos, tratando de articular o Rio (centro político do país desde os tempos coloniais até a perda da condição de capital, em 1960) com outras cidades e regiões do território nacional.
Ao longo do século XX, o atual território da Maré recebeu obras viárias e um maior afluxo de migrantes, que procuravam os grandes centros urbanos, como Rio e São Paulo, em busca de trabalho nas fábricas, construção civil e de uma vida melhor.
A partir de meados do século XX, em um processo progressivo, o Brasil trocou o protagonismo das ferrovias pelas rodovias. As estradas passaram a cortar o país e a avenida Brasil — inaugurada por etapas ao longo da década de 1940 —, foi fundamental para o fluxo de carros, ônibus e caminhões que chegavam à cidade do Rio.
A abertura da avenida Brasil, com função de ligar a zona urbana da então capital federal ao resto do país por via rodoviária, de modo que facilitasse o transporte de pessoas e mercadorias, também impulsionou o crescimento populacional da região, a partir da instalação de fábricas e das obras de urbanização, que atraíam mão-de-obra de todo o Brasil. Esses trabalhadores chegavam ao Rio através dessa mesma via e se instalavam nos terrenos historicamente acessíveis à população mais pobre, como beiras de rios e mangues, áreas pertencentes ao Estado e morros.
Impulsionados por esse crescimento no litoral norte da cidade, os antigos bairros de Bonsucesso, Manguinhos, Ramos, Olaria e Penha, perderam seu aspecto rural e se tornaram cada vez mais urbanizados, com obras de saneamento, instalação de bases militares, fábricas, estradas, além dos vários aterros praticados na região.
Ivan Calado, morador do Parque União conta sobre sua chegada na Maré:
“Por isso que eles chamam de Maré, porque isso tudo aqui era mar. Na época, não era avenida Brasil, era Variante. Eram duas pistas, uma de subida e uma de descida. E ali havia muito sinal, na época. E aí, ali na João Araújo, mesmo, aquilo foi tudo aterrado. Quando a gente foi morar ali, se tivesse uns 100 metros longe da Avenida Brasil, era muito, porque ali foi um ‘vazador’ de aterro. As pessoas encomendavam caminhões de aterro. As pessoas vazavam aterro ali, outros também, quando começou a fazer aquela obra do metrô, sobrava muita terra, muita areia, então tinha que ter um vazador.”