O Rio de Janeiro das décadas de 1930 e 1940 estava em constante ebulição. Na política, a Revolução de 1930 apontava para a modernização através de projetos de industrialização, rompendo os controles das oligarquias cafeeiras. No campo da cultura, a ebulição vinha por conta do movimento modernista, que passava a questionar o academicismo e projetar um Brasil fruto da antropofagia com a renovação das artes, das atitudes e dos hábitos.
No processo de implantação do Plano da Cidade, que tinha como principal atribuição avaliar o antigo Plano Agache e, a partir dele, elaborar novos projetos para o Rio, o prefeito Henrique Dodsworth projetou uma grande avenida que tinha como função ligar as pontas do Rio de Janeiro em direção à área norte. A abertura dessa avenida era o modo de integrar à vida urbana regiões mais afastadas, onde se concentravam os setores populares.
Através da política distinta para a zona sul e para o restante da cidade, o populismo de Vargas ganhava terreno. As experiências autoritárias dos anos do Entreguerras estavam na premissa da nova avenida – Mussolini, em 1932, projetou a grande Via del Imperio, em Roma, e Hitler, em Berlim, depois de ascender ao poder, pensou numa avenida Norte-Sul. Na América Latina, a avenida 9 de Julho em Buenos Aires também serviu de inspiração. As demolições necessárias ao projeto envolveram igrejas e prédios públicos, como o Paço da Prefeitura e a Igreja de São Pedro dos Clérigos. Ruas e praças igualmente sucumbiram à avenida. Pelo menos dois redutos importantes de socialização e mobilização política foram desarticulados de uma só vez: o largo de São Domingos e a mítica praça Onze. Era na pequena praça de S. Domingos, que associações de trabalhadores (de caráter sindical) se reuniam em comícios, assembleias e passeatas. As comemorações do 1º de maio eram realizadas ali, desde o início do século XX.
A ideia da grande avenida, entretanto, não era totalmente nova. A ligação do Cais dos Mineiros com a Ponte dos Marinheiros já estava na cabeça de Grandjean de Montigny, e, na década de 1920, o prefeito Carlos Sampaio pensou em criar a avenida da Independência, que iria da Rio Branco até a Praça da República. A grande avenida também fazia parte das propostas do Plano Agache. Com Henrique Dodsworth, nomeado por Vargas interventor do Distrito Federal durante o Estado Novo (1937-1945), ela saiu do papel e alterou significativamente a geografia do Rio de Janeiro.
A Presidente Vargas começou a ser aberta em 1941, sob a coordenação do secretário de Viação da prefeitura, o engenheiro Edison Passos. Seu projeto havia criado um grande frisson na Feira de Amostras de 1938. Ao ver a maquete, Vargas teria dito: “Vamos fazê-la”. O apoio do presidente foi fundamental para a obra que levou ao pé da letra a verticalização proposta por Agache. Terminada, ela era o símbolo do poder autoritário de Vargas e do descaso com as tradições populares, culturais e históricas dos lugares arrasados por conta de sua construção.