A vinda da chamada “Missão Francesa”, marco definitivo dessas transformações, é uma memória cheia de controvérsias. Durante muito tempo a historiografia dava os créditos do convite aos artistas franceses liderados pelo intelectual Joachim Lebreton (1760-1819) aos monarcas portugueses, principalmente com o incentivo do Conde da Barca (Antonio de Araújo e Azevedo, 1754-1817), influente membro do governo de Dom João VI, e mediação do Marquês de Marialva (Pedro José de Alcântara de Meneses Noronha Coutinho, 1775-1823). Outras versões apontam para problemas políticos que o grupo de artistas enfrentava na França durante a restauração dos Bourbons sob o governo de Luís XVIII, já que alguns deles eram bonapartistas confessos.
Mesmo com uma origem obscura, sabemos que Lebreton costurou uma longa negociação com os portugueses para obter o valor das passagens e elaborar os planos de uma instituição de ensino acadêmico nos trópicos. O grupo saiu da França em janeiro e chegou ao porto do Rio no dia 26 de março de 1816. Essa iniciativa trouxe para a cidade uma comunidade de artistas que trabalhou diretamente na docência e na produção constante de trabalhos cujos temas principais eram a vida urbana e a paisagem cariocas.
Os nomes que compunham a comitiva de 1816 incluem alguns dos que marcariam definitivamente nossa visão e imaginário sobre o Rio: os pintores Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, os escultores Auguste-Maria Taunay e François Bonrepos, o gravador Charles-Simon Pradier, o mecânico François Ovide, o ferreiro Jean-Baptiste Level, o serralheiro Magliori Enout, os curtidores Pelite e Fabre, os carpinteiros Louis Jean e Hyppolite Roy e os arquitetos Louis Uerier, Charles Levasseur e Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny.
Esse grupo completo de profissionais da arte chega em uma cidade cuja cena artística local era limitada a poucos nomes que marcaram época (caso de pintores e entalhadores como José de Oliveira Rosa, Leandro Joaquim, João de Sousa, Manuel da Cunha ou do grande Mestre Valentin) e cuja maioria tinha forte vínculo com a temática religiosa. Outro ponto importante na relação do Rio com as artes nesse período era o fluxo constante de artistas viajantes que vinham em procura de novas paisagens, como foi o caso dos ingleses Emeric Essex Vidal, Maria Graham, Charles Landseer e Henry Chamberlain, ou do austríaco Thomas Ender (membro de outra missão pouco falada, a Missão Austríaca, que acompanhou a comitiva da arquiduquesa e futura imperatriz D. Leopoldina e trouxe, além de Ender, nomes como Johan Baptiste von Spix e Carl Friederich von Martius).
Os frutos duradouros da Missão Francesa os incluem como um momento decisivo na construção de saberes, instituições e trabalhos que até hoje ressoam na vida da cidade.