Em 1815 Portugal restabeleceu suas relações com a França, depois da derrota de Napoleão Bonaparte e da volta da dinastia Bourbon ao poder. Muitos artistas franceses que apoiaram Napoleão desejavam sair da França temendo represálias e encontraram em D. João VI e no conde da Barca (Antônio de Araújo de Azevedo), patronos dispostos a contratá-los. Assim, em 26 de março de 1816 desembarcava no Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa, liderada por por Joachim Lebreton – secretário perpétuo da classe de belas-artes do Instituto Real da França.
Com sua viagem paga pelo governo brasileiro, entre os principais participantes estavam pintores, escultores, ferreiros e engenheiros. Jean-Baptiste Debret, Nicolas-Antoine Taunay e Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny são alguns dos muitos artistas que deixaram cenários importantes gravados na história do Rio. O escultor e gravurista Marc Ferrez (tio do famoso fotógrafo homônimo) e o gravador de medalhas Zéphyrin Ferrez (irmão de Marc) uniram-se à Missão meses depois da chegada dos primeiros artistas.
Debret instalou o seu atelier no bairro do Catumbi e se tornou pintor oficial na Corte de D. João VI e, depois, de D. Pedro I. Deixou-se encantar pela exuberância e ineditismo das paisagens que via por aqui, dos costumes barrocos e registrou tudo em suas pranchas e livros, como no famoso Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Essas imagens são uma inestimável documentação para o estudo da cultura e da paisagem brasileiras da época.
O arquiteto Grandjean de Montigny realizou a remodelação da cidade, implantando a estética neoclássica e superando a influência barroca. Elaborou o projeto da primeira sede oficial da Academia Imperial de Belas Artes (1826) – da qual só resta o pórtico, no Jardim Botânico da cidade; do Solar Grandjean de Montigny (1828), sua casa na Gávea e, hoje, Centro Cultural da PUC-Rio; da Praça Monumental do Campo de Santana (projeto de 1827, não construído); da primeira sede da Alfândega (edifício da Praça do Comércio), obra concluída em 1820 e que hoje abriga a Casa França-Brasil; além de diversos outros projetos de saneamento e urbanização.
Muitos destes projetos acabaram não se concretizando. Em 1826, ele elaborou o projeto de uma extensa avenida monumental que ligaria o Campo de Santana, o Largo do Rossio e a Praça XV, na qual seria construído um novo e imponente palácio imperial. Em 1827, preparou uma nova malha urbana no Mangue de São Diogo, simétrica e regular. Também propôs uma remodelação do Campo de Santana, que ficaria rodeado de edifícios públicos, políticos e administrativos, tomando como modelo as praças francesas. A ideia era criar um novo centro de poder, afastado da Praça XV e voltado para o lado da cidade que crescia.
Montigny – como professor de arquitetura da Academia Imperial de Belas Artes – foi responsável pela formação de toda uma geração de arquitetos do Rio.
Marc Ferrez, por sua vez, criou uma tradição artística e arquitetônica, passada a seus descendentes, que constituíram uma base importante para a análise do urbano do Rio. Atuou ao seu lado Zéphyrin Ferrez, que colaborou com Debret e Grandjean de Montigny na decoração de ruas e praças do Rio de Janeiro.