Coloriram seus rostos de preto, verde e amarelo e, em agosto de 1992, saíram às ruas para derrubar Fernando Collor de Mello. Eram os caras-pintadas, pediam o impeachment do presidente que governava o país desde março de 1990. Collor começou confiscando a nossa poupança. O país assistiu, incrédulo, às explicações da ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Melo: só poderíamos dispor de 20% dos nosso dinheiro, dizia ela, com seu indefectível colar de pérolas.
O tempo correu, a Casa da Dinda (residência de Collor) cresceu, vieram os escândalos de corrupção denunciados por seu próprio irmão, Pedro Collor de Mello. Em meio à forte comoção popular, em 27 de maio de 1992, instalou-se uma CPI. Em julho, o motorista da secretária revelou que ele próprio pagava as despesas pessoais do presidente, com dinheiro de uma conta fantasma mantida por PC Farias, seu “operador”. Em 16 de agosto de 1992, aconteceu o “domingo negro”. Milhares de jovens tomaram as ruas das capitais, vestindo roupas negras e com o rosto pintado, em sinal de luto contra a corrupção. No Rio, mais de 30 mil gritavam em coro:
Ai, ai, ai, ai, se empurrar o Collor cai.
Estudantes de universidades públicas e privadas do Rio, Niterói e Baixada Fluminense participaram da passeata, que teve início na Candelária e percorreu a avenida Rio Branco até a Cinelândia. Estudantes secundaristas se juntaram ao movimento: em reunião no Colégio São Vicente, alunos do Santo Inácio, Zaccaria, Senador Correia e Santa Úrsula decidiram colocar tiras pretas nos braços, feitas com saco de lixo, e tomar as ruas. Organizaram um “arrastão” que desde cedo percorreu os portões de vários colégios, levando milhares de jovens para a Candelária.
Dezenas de manifestações se sucederam àquelas do dia 16 de agosto. Em 02 de setembro, foi aberto o processo de impeachment, impulsionado pela maciça presença do povo nas ruas. Então, em 09 de setembro, numa sessão histórica, a Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade do impeachment. E, finalmente, em 29 de dezembro de 1992, Collor renunciou à Presidência da República e o vice, Itamar Franco, assumiu seu lugar.
A participação dos jovens estudantes de caras-pintadas foi decisiva para esse acontecimento histórico.
Referências:
MOREIRA, Maria Ester Lopes. Caras Pintadas. Disponível em: CPDOC – Fundação Getúlio Vargas.