Eliana Sousa Silva, coordenadora da Redes da Maré

A trajetória de Eliana se mistura com a trajetória das favelas que compõem a Maré. Sua família veio de Serra Branca, cidade na Paraíba no Sertão do Cariri, vindo tentar a vida no Rio, história como as de muitas outras famílias da Maré. Através do trabalho como jovem na Igreja Católica, Eliana despertou para as lutas comunitárias da Nova Holanda e da Maré, tendo atuado junto com a Fiocruz em Educação para Saúde, junto às escolas para alfabetização tanto de adultos quanto de crianças, e atuou na Associação de Moradores e Amigos da Nova Holanda, em plena efervescência do movimento comunitário na Redemocratização do Brasil, na virada das décadas de 1970 e 1980.

Após a experiência na Associação de Moradores, Eliana passou a atuar em escalas maiores. A Maré e a cidade passaram a ser o eixo de suas lutas para que a sociedade passasse a ver o território como um lugar de cidadãos portadores de direitos. E na luta por essa mudança, a Maré passou a ser o tema em vários aspectos: educação, saúde, meio ambiente, cultura… Assim, a Redes da Maré, atual instituição em que Eliana atua, promove ações nessas várias frentes lutando para que os moradores possam contar com acesso à universidade, à uma rede de Saúde, ao lazer, à cultura, e à sua cidadania plena, construindo junto com os moradores da Maré e do conjunto da cidade, numa perspectiva que remete à Paulo Freire, a noção dos mareenses como cidadãos, luta que vem desde sua primeira gestão na Associação de Moradores:

A gente vivia num lugar muito precário. Então os políticos pouco faziam. Então tinha uma coisa de se juntar para pegar água. Cansei de pegar água na Avenida Brasil. Mas era uma coisa junto com os moradores. (…) Quando eu descobri a Nova Holanda, quando eu descobri esse senso de comunidade, quando eu talvez pude pensar numa perspectiva de me engajar fora dessa influência dos meus pais. Porque como eu fui criada muito presa, mas com muita curiosidade de saber o que acontecia lá fora, eu sempre fui muito curiosa.