Encontros e acolhida

     Ai, meu Zambi, que arenga!
Ai, Zambi, que zungu!
Trecho da canção “Que Zungu” – Nei Lopes

A existência de maior demanda de trabalho e movimento comercial na área central da cidade fazia com que nessas áreas se concentrasse grande parte das pessoas africanas e seus descendentes. Muitos procuravam dormir nas proximidades, mesmo que vivessem longe, em casas que poderiam os abrigar em troca de serviços; outros encontraram maneiras para ficar em habitações coletivas, dividindo entre muitos o espaço e, muitas vezes, a comida e os cuidados com a vida. Nas pequenas habitações, às vezes de um cômodo só, onde pernoitavam as vendedoras de angu com seus pertences, outras e outros se juntavam.

“Largo da Prainha”. Foto de Augusto Malta, c.1900. Fonte “A Praça Mauá na memória do Rio de Janeiro”, de Paulo Bastos Cezar e Ana Rosa Viveiros de Castro. Retirado de LEHMT

Foram se formando os zungus, lugares de encontro e compartilhamento de histórias e afetos, muitas vezes também de acolhida para os fugidos e, por isso, presenças constantes nos registros de polícia na região da Pequena África (como no Largo da Prainha nº13). Quem conseguisse casa para si logo trazia família — fosse de sangue ou agregada. Nessas casas, ao anoitecer, depois de jornadas cansativas, na conversa se compartilhava o dia e as histórias e, eventualmente, o batuque, a cantoria, a prece, a memória trazida da África.

Proibidos por lei, os “zungus” continuaram existindo por todo o séc. XIX. Jornal O Sete D’Abril, 1839, p. 1 – Hemeroteca Digital
Eram comuns as fugas de escravizados para os zungus da cidade. Diário do Rio de Janeiro, 1834, p. 2. Hemeroteca Digital