João Cândido

João Cândido Felisberto nasceu de Ventre Livre (Lei 2040/1871) em 1880, em uma fazenda no município de Rio Pardo, Rio Grande do Sul. Aos 16 anos, ingressou na Marinha como grumete e, depois, se tornou marinheiro, navegando pela Europa, América e África.

João Cândido e outros marinheiros partiram em viagem internacional em julho de 1906, para algumas ilhas do Atlântico e cidades da Europa. Foi durante essa viagem que ele tomou conhecimento das revoltas de marinheiros, como a do porto de Kronstadt, em uma ilha russa no Mar Báltico, promovida por marinheiros russos que reivindicavam melhores condições de trabalho. Inspirado pelo que ouvira na viagem, ao chegar ao Brasil, João Cândido tentou negociar o fim da chibata com o então presidente Nilo Peçanha, sem sucesso. O uso da chibata como castigo na Marinha brasileira havia sido abolido em 16 de novembro de 1889; na prática, porém, ele continuou sendo aplicado.

João Cândido

João Cândido não desistiu de sua ideia e, em novembro de 1910, junto a alguns companheiros, começou a planejar uma rebelião. A revolta foi precipitada pela punição do marinheiro Marcelino de Menezes. João Cândido assumiu a liderança do movimento a bordo do Minas Gerais. Depois de enviar carta ao presidente Marechal Hermes da Fonseca, os marujos receberam o enviado do governo, o deputado José Carlos de Carvalho, e negociaram a anistia e o fim da chibata.

O final infeliz já se conhece: os marinheiros foram traídos pelo presidente, João Cândido foi preso, interrogado e levado para a ilha das Cobras. Na solitária número cinco, onde só cabiam 6 prisioneiros, ficaram 18 por três dias, sem ter o que comer ou beber, num calor insuportável. Apenas dois sobreviveram: João Cândido e João Avelino Lira.

Em abril de 1911, João Cândido foi internado no Hospital Nacional de Alienados. O diretor da instituição, Juliano Moreira, atestou que o marinheiro não era louco. Liberado, voltou à prisão. Foi absolvido, em emocionante julgamento defendido pelo então jovem advogado Evaristo de Moraes.

João Cândido vendendo peixe na praça XV, 1938. Acervo Biblioteca Nacional – BN Digital

Saiu da prisão em dezembro de 1912 e passou a vender peixes para se manter. Viveu seus últimos anos em São João de Meriti.

João Cândido em 1963. Arquivo Nacional – Fundo Correio da Manhã

Referências:

BERNARDO, André. A conturbada vida de João Cândido, líder da Revolta da Chibata preso, expulso da Marinha e internado como louco. Disponível em: BBC
CHEUICHE, Alcy. João Cândido, o almirante negro. Porto Alegre: LP&M, 2011.
LAMARÃO, Sergio e URBINATI, Inoã Carvalho. João Cândido – verbete. Disponível em: CPDOC – Fundação Getúlio Vargas
MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata (1958). 4a ed. Rio de Janeiro: Edições Graal /Paz e Terra, 1986.