Os maracajás eram um dos muitos subgrupos de tupinambás que habitavam a Guanabara antes da chegada dos europeus, especialmente a atual Ilha do Governador. Os maracajás e seus domínios foram constantemente visitados pelas embarcações portuguesas durante todo o período pré-colonial, estabelecendo uma relação de proximidade estratégica e por isso contribuíram de forma decisiva para a fundação do Rio de Janeiro.
Cunhambebe, o grande líder tamoio, gostava de dizer que era uma onça, e seus inimigos, em contrapartida, eram “marakaîas”, ou seja, gatos do mato. É provável que esse apelido pejorativo esteja associado à principal liderança desse grupo indígena, registrada nas fontes históricas como Maracajaguaçu, “o grande gato do mato”.
As tabas aparentadas de Maracajaguaçu dominaram a Ilha do Governador pelo menos até 1554, mas não se limitaram a esse território. Outras regiões – na Baixada Fluminense e no fundo da Baía da Guanabara – também eram habitadas por eles. No ano de 1554, passaram a ser perseguidos e combatidos por franceses e seus aliados tupinambás, até serem expulsos. Serão os maracajás os indígenas escravizados pelos franceses no curto período da França Antártica. Os sobreviventes exilaram-se no Espírito Santo, de onde partiram nos anos seguintes, ao lado de indígenas tupiniquins, para ajudar os portugueses nos embates da destruição do forte Coligny, em 1560, e na expedição de fundação do Rio de Janeiro, a partir de 1564.
Os “índios gato” também foram importantes para a manutenção e a proteção da capitania do Espírito Santo a partir de 1555, onde se espalharam pelo litoral. A ligação desse subgrupo tupinambá da Guanabara com os lusos tem a ver com a primeira feitoria portuguesa que existiu entre 1504 e 1516 na atual Ilha do Governador. Erguida por Américo Vespúcio na “grande ilha” além do Cabo Frio, a feitoria abasteceu as tabas da Ilha do Governador em troca de pau-brasil, com manufaturas e instrumentos de metal, ambos desejados pelos indígenas – uma relação de quase uma década.
A presença inicial dos portugueses nessa região foi responsável por criar laços de amizade e parentesco com os maracajás a partir da prática do “cunhadismo”, modo pelo qual os tupinambás introduziam estranhos à sua sociedade, com práticas como o casamento. Dessa forma, relações e alianças eram estabelecidas. Em dezembro de 1552, o governador-geral Tomé de Sousa foi à Guanabara, mas não conseguiu descer no litoral. As praias estavam repletas de guerreiros tupinambás, impedindo o acesso com ameaças. O governador decidiu, então, seguir até a “Ilha dos Índios Gatos”, onde foi recebido com solenidades por Maracajaguaçu. Na ocasião, os jesuítas rezaram a primeira missa do Rio de Janeiro.
Os maracajás compartilhavam não só o mesmo território, como também as raízes culturais, linguísticas e ritualísticas das demais comunidades tupinambás. Seus inimigos ancestrais eram os mesmos das outras tabas do Rio de Janeiro. No entanto, historicamente, quase alcançaram o status de uma etnia diversa devido à sua aliança com os portugueses e à sua participação determinante no contexto das guerras de conquista da Guanabara. Essa aliança também fez com que os maracajás ficassem também conhecidos como “temiminós”, terminologia pelos quais os indígenas aliados aos portugueses ficariam conhecidos.