No passado, havia um conjunto de favelas às margens da lagoa Rodrigo de Freitas. A maior delas era a chamada Praia do Pinto, no Leblon, uma favela horizontal que teve suas origens provavelmente nos anos 1930, com o início da construção do canal do Jardim de Alá e a valorização imobiliária da região, o que aumentou a oferta de empregos na construção civil e na área de serviços. Seus primeiros moradores eram, principalmente, imigrantes nordestinos que procuravam trabalho ou já eram empregados nos bairros próximos.
Mas foi a própria valorização imobiliária, tornada especulação, um dos fatores decisivos para a enorme pressão que culminou na radical política de remoção de favelas empreendida durante os governos de Carlos Lacerda e Negrão de Lima, nos anos 1960. Por meio de uma operação tão gigantesca quanto brutal, o poder público tentou remover ao máximo as favelas da zona sul e da região central, transferindo seus moradores para conjuntos habitacionais longínquos e de infraestrutura precária.
A remoção da favela Praia do Pinto fez parte desse movimento e ilustra muito bem o autoritarismo e o ímpeto de segregação em seu interior. Ocorre que o episódio decisivo no processo de remoção foi um incêndio, jamais esclarecido. Numa madrugada de maio de 1969, cerca de mil barracos foram destruídos pelas chamas, deixando 9 mil pessoas desabrigadas. A tragédia se deu num período de especial tensão, com líderes comunitários oferecendo resistência às ameaças de transferência para outros bairros. O incêndio acabou sendo um pretexto para a retirada dos moradores, que foram levados para conjuntos distantes como Cidade Alta e Cidade de Deus, e alguns integraram mais tarde a Cruzada São Sebastião, vizinha à favela.
Na área da antiga praia do Pinto, foi erguido um condomínio conhecido como Selva de Pedra e, mais recentemente, o Shopping Leblon.