“Odô Yiá, Odô Yiá / rainha das águas, sereia do mar!” O canto acompanhado do ritmo de atabaques, abês e agogôs anuncia uma celebração bastante popular no Rio de Janeiro, a festa de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro. O cortejo percorre os mais de 25 quilômetros que separam o Mercadão de Madureira, na zona norte, da praia de Copacabana, onde oferendas com perfume de alfazema e pétalas de rosa branca são lançadas ao mar.
A gratidão a Iemanjá também dá contornos ao Réveillon de Copacabana, hoje conhecido como o maior do mundo. Talvez nem todos os adeptos se deem conta, mas o rito de pular sete ondas na praia — tão corriqueiro entre os cariocas — tem raízes na umbanda. O número remete aos sete orixás: Oxalá, Oxum, Oxóssi, Xangô, Ogum, Obalauiê e Iemanjá.
Festas como essas não são exclusividade de uma única tradição religiosa. Seus elementos, não raro, espelham o sincretismo tipicamente carioca. Prova disso é a lavagem dos mais de 380 degraus da escadaria da Igreja de Nossa Senhora da Penha, que marca o fim da novena e dá início à Festa da Penha, reunindo fiéis das mais diversas crenças. No passado, era talvez a segunda festa mais popular do Rio, perdendo só para o Carnaval.
E há, ainda, as datas que são celebradas de diferentes formas por múltiplas matrizes ou tradições. É o caso, por exemplo, do Dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio. Os festejos, em 20 de janeiro, costumam começar com missa na Catedral Metropolitana e procissão puxada por frades capuchinhos saindo da Basílica de São Sebastião. Mas também com giras de umbanda consagradas a Oxóssi.
O mesmo acontece com os fogos que abrem a madrugada de 23 de abril, a chamada “alvorada de São Jorge”, seguida pela procissão que sai pelas ruas da cidade, reunindo fiéis em homenagem ao santo guerreiro. Nos terreiros, a mesma festa é animada pelos batuques a Ogum, acompanhados das feijoadas que são oferecidas como ebó ao orixá detentor do ferro e do fogo.