Os fortes ventos anunciam que uma tempestade está prestes a chegar. Raios e trovões tomam o céu, riscando as nuvens escuras, tão carregadas, que parecem estar a poucos metros do chão. A chuva vira temporal e traz consigo os ruídos do caos: gritos e buzinas tomam as ruas, rios transbordam, vias param, áreas inteiras acabam alagadas.
Muitas vezes, o estrondo de desabamentos anuncia que outras vidas foram ceifadas. A sirene da Defesa Civil, alertando para o risco de deslizamentos, é um tipo de som que permanece, aos ouvidos do carioca, um enigma: ora ressoa, ora não, como têm mostrado inúmeros episódios.
O verão no Rio de Janeiro também pode ter esses sons — e esses silêncios. A natureza cobra o seu preço, afinal, reivindicando obras e mecanismos de prevenção que aplaquem a fúria de tragédias já anunciadas. O equilíbrio entre paisagem natural e ocupação urbana, por fim, pode ser rompido pelo mais suave rumorejar.
O lamento e a desolação dos cariocas desabrigados pelas chuvas de verão, todos os anos, não costuma constar no inventário de sons a integrar o imaginário sobre a Cidade Maravilhosa. Mas eles estão lá, com seu choro desesperado ante a perda de um lar, com seu ressonar coletivo nos pátios de igrejas e escolas tornados abrigos temporários. Exemplo disso são as consequências dos temporais que provocaram grandes estragos na cidade, em fevereiro de 2019, deixando ao menos sete mortos — dois deles dentro de um ônibus que foi soterrado por um deslizamento, na avenida Niemeyer. Além dos ventos, do ruído das águas e das trovoadas, outro som tem se tornado frequente nessas chuvas: o das árvores caindo, traço renovado de uma tragédia que se repete.