Atualmente condenadas em grande parte do mundo, as touradas já foram moda no Rio de Janeiro colonial. Até a declaração de independência, em 1822, eram realizadas como eventos comemorativos em homenagem à Família Real portuguesa.
A iniciativa partia de comerciantes lusos que ocupavam os arredores da Praça XV, do Campo de Santana, da atual Quinta da Boa Vista e da antiga Praça XI. Animados com os touros e toureiros que vinham da Europa, mantiveram a tradição portuguesa de não matar os animais, embora os touros sofressem com os ferros espetados.
Acredita-se que a primeira tourada no Rio foi realizada em março de 1641, numa ‘Praça do Curro’ montada entre o Morro do Castelo e a Lagoa do Boqueirão, no Centro. O local era enorme, com palanques e camarotes de luxo, ocupados pela elite. O evento era uma homenagem à Aclamação de Dom João IV e ao fim do domínio espanhol sobre Portugal. Nas primeiras décadas do século XIX, foram organizadas importantes corridas de touro. Das importantes touradas realizadas nas primeiras décadas do século XIX, as mais espetaculares foram as de 1818, que integraram as festividades do casamento de D. Pedro I e Princesa Leopoldina. Nos anos 1840 e 1850, mudanças no sistema de organização trouxeram novo público para o esporte. Entraram em cena os empresários privados, investindo em espaços mais confortáveis, bandas de música e gado de qualidade.
As touradas passaram a incorporar também o “touro dos curiosos” e, ao final do programa oficial, voluntários podiam se apresentar para assumir a função do toureiro. Em 1847, foi a vez de mais uma novidade: numa praça montada na esquina das ruas Frei Caneca e Riachuelo, o povo assistiu admirado à performance de uma toureira, a senhorita Joanna Paulina.
A grande procura pelos eventos na cidade acabou por provocar a fundação do Clube Tauromáquico e de diversas arenas, a maior parte delas no bairro do Flamengo. Mas o sucesso das touradas reacendeu também a polêmica em torno do primitivismo do esporte. Grandes nomes da cultura brasileira, como os escritores Arthur Azevedo e Machado de Assis, passaram a recriminar publicamente a situação. No final do século XIX, o Rio de Janeiro ganhou seu primeiro e único curro definitivo, próximo à atual esquina das ruas Ipiranga e Laranjeiras. Mas o local não duraria muito.
Cercadas de polêmica e muitas vezes proibidas, as touradas deixaram de ser realizadas na cidade em 1907, após decreto do prefeito Souza Aguiar.