Foi durante os anos 1930 que uma novidade importada da Califórnia, nos Estados Unidos, começou a virar febre nas areias de Copacabana. Já na década seguinte, os primeiros torneios amadores proliferaram nas praias cariocas, agrupando tanto atletas de fim de semana quanto esportistas que já eram craques no vôlei de quadra. O possível desnível técnico não era exatamente um obstáculo: a maioria se reunia ao redor da rede para se divertir, não para competir. Muito embora houvesse, sim, prêmios a distribuir: além dos clássicos troféus e medalhas, as recompensas envolviam bolas, maiôs e sapatos.
Entre as décadas de 40 e 50, o “Jornal dos Sports” — periódico esportivo fundado em 1931 — teve papel importante na consolidação do esporte, ao organizar uma série de torneios. A maioria das partidas era realizada na orla da Zona Sul, mas as areias da Ilha do Governador e de Ramos também receberam jogos de times masculinos e mistos.
As redes mais badaladas eram as do Leme, Santa Clara, Bolívar e Posto 6, em Copacabana; e Montenegro (atual Rua Vinícius de Morais) e Aníbal de Mendonça, em Ipanema. Em geral, os times eram formados por sextetos, depois vieram os quartetos e as duplas. Não havia equipes femininas, mas muitas mulheres jogavam nos times mistos.
Uma delas está entre as precursoras da modalidade no Rio e no Brasil: a Tia Leah. Nascida em 1919, já nos anos 30 era conhecida por jogar vôlei de praia nas proximidades do Posto 6. Tia Leah faleceu em 2012, aos 93 anos — até os 70, prosseguiu praticando o esporte, e nas mesmas areias do Posto 6. Esse pedaço da praia, aliás, tem história: pelo Posto 6 passaram ainda muitos nomes consagrados do vôlei de quadra e de praia, como Badalhoca, Bernardinho, Adriana Behar e Jackie Silva.
Na mesma Copacabana, Seu Thomás, Frazão e Bebê Barreto também viraram nomes conhecidos pelos praticantes do esporte. A equipe da rede Bebê Barreto, por exemplo, foi campeã do primeiro torneio “Jornal dos Sports”, em 1947.
Outra personagem importante na história do esporte no Rio de Janeiro é Seu Nonô, pescador desde 1937. Ele, que já costurava sua própria rede de pesca, começou a fabricar redes de vôlei nos anos 60. Das praias cariocas, o pescador chegou a fornecer redes para a maior competição nacional do esporte, o Circuito Brasileiro Open.
A partir de 1986, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), responsável pelo vôlei de quadra, passou a gerenciar o vôlei de praia também e, em seguida, a Federação Internacional decidiu institucionaliza-lo como esporte.
Na década de 1980, Sinjin Smith e Randy Stoklos, os “reis da praia” americanos, vieram competir e treinar no Rio. Eles jogavam na rede próxima ao Clube Marimbás, em Copacabana, onde acabaram repassando sua experiência e conhecimento sobre os campeonatos e regras americanos para os cariocas. A profissionalização do esporte foi se ampliando pouco a pouco, e o vôlei de praia foi ganhando cada vez mais visibilidade.
Nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, jogadoras do Rio fizeram história. As cariocas Sandra Pires e Jackie Silva protagonizaram uma final verde e amarela contra Monica Rodrigues (carioca) e Adriana Samuel (fluminense, de Resende). Assim, o Brasil e o Rio trouxeram para casa as medalhas de ouro e prata na estreia do vôlei de praia como modalidade olímpica. E as cariocas Sandra e Jackie faturaram o primeiro ouro do esporte feminino brasileiro.
Quatro anos depois, em Sydney, as cariocas continuaram fazendo bonito e dominando o pódio. Adriana Behar e Shelda Bedê (cearense) levaram prata; enquanto o bronze ficou com a dupla da gema Adriana Samuel e Sandra Pires. Em 2004, foi vez de as duplas masculinas trazerem medalhas de ouro para o Brasil: Ricardo Santos e Emanuel Rego, em Atenas.
Nas Olimpíadas do Rio, outra festa: Alison Cerutti e Bruno Schmidt levaram a medalha de ouro e Ágatha e Bárbara Seixas (carioca), a de prata, nas areias da mesma Copacabana onde o vôlei de praia nasceu e cresceu. A Arena Olímpica, montada em frente à Rua Princesa Isabel, tinha 21 metros de altura – equivalente a um prédio de sete andares –, 62 mil metros quadrados e capacidade para 12 mil pessoas. O espaço foi palco de alguns dos momentos mais emocionantes e históricos do esporte coletivo que, até 2016, conquistou o maior número de medalhas olímpicas para o Brasil (13).
Este texto foi elaborado com a colaboração de Ronaldo Oliveira (Rony Show), treinador de vôlei de praia (foi assistente técnico da Sandra e da Jackie em 1996) e ex-jogador de voleibol do Fluminense.