Furdunço

Sem santo e sem pecado, mas com muita peleja entre as intenções que encruzam céu e inferno, cidade e mata, casa e esquina, o Rio se tornou um verdadeiro fuzuê onde os mais diferentes modos de vida se esbarram e comem, cada qual a sua maneira, na mesma gamela. Por aqui se praticam ritos que riscam a cidade e jogam dendê na batina do padre, como o bloco “Chave de Ouro” fazia, ao celebrar os deuses da festa e do prazer em plena quarta-feira de cinzas. Um Rio de flor e faca, afago e esporro, uma cidade em que a quizumba pode baixar no mesmo corpo da poesia e da mandinga. Assim sendo, a Lapa é o melhor lugar para se fazer um santuário para o santo malandro que a cidade merece. Em seus arcos, esquinas, paralelepípedos, biroscas, postes e goles derramados no chão, vive a memória de muita gente que por ali passou e fez ela ser o que é; um verdadeiro furdunço.