Em novembro de 1555, uma expedição colonizadora francesa se instalou na baía de Guanabara. Aproximadamente seiscentos normandos vieram na primeira leva de colonos. Pouco mais de um ano depois, outros quase trezentos também aportaram na região. É possível que a maior parte desses franceses tenha se instalado na atual ilha de Villegagnon. Ali, viviam centenas de colonos, que trabalhavam para erguer o forte Coligny — sede da missão colonizadora. Porém, se a ilhota próxima à entrada da baía de Guanabara era ideal para montar a defesa dos normandos, ela não era a melhor opção como núcleo urbano. Afinal, além do tamanho limitado, não possuía fontes de água limpa.
Os franceses fundaram então um aldeamento no continente, provavelmente, no início de 1556. Batizada em homenagem ao rei da França, Henrique II, a chamada Henryville, ou Ville Henri, tinha localização estratégica: era próxima de um curso d’água e a meia légua de distância do forte Coligny. O povoado foi erguido entre o Uruçumirim (atual morro da Glória) e a foz do rio controlado pelos Karióka — uma das tabas tupinambás aliadas dos franceses. Àquela época — isto é, muito antes dos aterros que séculos mais tarde mudariam a geografia do Rio de Janeiro —, o rio Carioca desembocava na atual rua Barão do Flamengo.
Henriville não chegou a constituir uma cidade de fato — carecia de estruturas urbanas, instituições políticas e mesmo um marco fundador. As fontes — ou a falta delas — permitem especular sua população entre dezenas e centenas. Sua própria existência chegou a ser negada por Jean de Léry — que viveu a tentativa de colonização francesa por quase um ano e, posteriormente, narrou em detalhes sua experiência na baía de Guanabara em seus escritos. O pastor calvinista denominou o local como Briqueterie (olaria). Segundo o cronista, haveria apenas algumas moradas, roças e uma fabriqueta de tijolos. Ao que tudo indica, Henriville serviu mais de suporte em terra para os insulares que erguiam o forte Coligny. Lá teriam vivido franceses e tupinambás. De todo modo, com o ataque das tropas portuguesas lideradas por Mem de Sá, em 1560, o povoado foi desmantelado sem deixar vestígios.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Davi Aroeira Kacowicz do Projeto República (UFMG).