Ressaca é um experimento sonoro e visual feito a partir de imagens da região do Passeio Público no centro da cidade do Rio de Janeiro dos anos 1920. Primeiro jardim público do país, o Passeio Público passou por várias transformações assim como serviu a variados interesses econômicos. Ressaca recorre a material de arquivo dos primeiros cinegrafistas (Alberto Botelho, Silvino Santos, entre outros) e fotógrafos (Marc Ferrez, Augusto Malta), assim como publicações na imprensa da época sobre a então capital da Primeira República, para mostrar as imagens de sonho embutidas nos projetos do Passeio Público e da cidade.
Vemos imagens líricas e de celebração da capital que avança em direção ao progresso e à modernidade das metrópoles europeias. São avenidas largas, homens lendo jornais, contemplando o horizonte ou passeando pelos jardins do Passeio. Ressaca é um breve lampejo sobre essa região atropelada por transformações paisagísticas e arquitetônicas. De um projeto de jardim público com um mirante para apreciar o horizonte e o mar, o Passeio vai se distanciando da orla e perdendo seu charme. Entre as várias obras que se interpuseram entre os jardins e a orla estão: a avenida Beira Mar, o Cassino Beira Mar e o Teatro Cassino (os dois últimos desapareceram logo depois de construídos sem deixar vestígios).
As imagens em movimento que Ressaca retoma são restos de filmes que não existem mais integralmente. São fragmentos. Neste sentido, as perguntas presentes durante o processo de montagem e realização foram: o que podemos fazer com esse material? O que essas imagens esmaecidas nos dizem do Rio de Janeiro (e o que querem ocultar)? Como manejar a mudez dessas imagens silenciosas? Olhar de modo atento para esse material é descobrir, entre outras coisas, existências perdidas no tempo que ora nos lançam um olhar do passado e ora nos dão as costas, indiferentes ao cinema.
Andréa França