José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, é ainda hoje o mais conhecido informante a serviço da Marinha e da CIA durante a Ditadura Militar. Seu discurso de 25 de março de 1964, no qual saiu em defesa das reformas de base e das condições de trabalho dos marinheiros, culminou com a ocupação por três dias do Palácio do Aço, sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro.
Cerca de dois mil marinheiros celebravam os dois anos da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (Amfnb), da qual Cabo Anselmo era presidente, quando o ministro da Marinha, Sílvio Mota, ordenou a prisão dos 40 organizadores do evento. Prestigiada entre os marujos, a associação não era bem-vista pelo alto escalão, por sua orientação reformista e cunho político. Em reação, os marinheiros se recusaram a abandonar a sede do sindicato – na rua Ana Néri, em São Cristóvão.
Vinte e cinco soldados da tropa enviada pelo ministro para desmobilizar o protesto resolveram depor as armas e aderir ao motim. O presidente João Goulart voltou às pressas de São Borja para o Rio de Janeiro, nomeou um novo ministro no lugar de Sílvio Mota e assumiu as negociações. Na manhã do dia 27, ele acertou a saída dos amotinados e, à tarde, declarou a anistia dos marujos.
O motim saía vitorioso e as Forças Armadas, afrontadas. A revolta dos marinheiros unificou os quartéis, fragilizou o governo e forneceu às lideranças que conspiravam contra Jango o pretexto para sustentarem a denúncia de ilegalidade do presidente. Enquanto isso, o horizonte do golpe ficava perigosamente mais próximo.
Este texto foi elaborado pelo pesquisador Danilo Araujo Marques do Projeto República (UFMG).